segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A Arte de ser simples...

A ARTE DE SER SIMPLES

Goiabas Roubadas

As coisas simples são sempre as mais difíceis.
A arte de ser simples é a mais elevada, e do mesmo modo aceitar-se a si mesmo é a essência do problema moral e o cerne de toda uma visão de mundo. Que eu alimente um mendigo, que perdoe uma ofensa, que ame um inimigo em nome de Cristo, são todas sem dúvida grandes virtudes. Aquilo que faço ao menor de meus irmãos estou fazendo a Cristo.
Mas e se eu acabar descobrindo que o menor de todos, o mais pobre dos mendigos, o mais acusado de todos os ofensores e o próprio grande adversário residem dentro de mim, e que eu mesmo careço de minha própria bondade? Que sou eu mesmo o inimigo que deve ser amado? E então?
Portanto, regra geral, toda a verdade do cristianismo é revertida, e não se aplica qualquer discurso de amor e longanimidade. Dizemos ao irmão dentro de nós: “Raca!” e infligimos condenação e fúria sobre nós mesmos. Escondemos do mundo o irmão interior, negamos ter jamais conhecido esse menor dos menores dentro de nós, e se o próprio Deus se aproximasse de nós nessa forma desprezível — a nossa forma — teríamo-lo negado mil vezes antes que cantasse um único galo.
Carl Jung
em Psicoterapeutas ou o clero

Excelente texto sobre O Poder do Mito!

Joseph Campbell e o Monomito


Devidamente iluminado por Carl Jung, o antropólogo Joseph Campbell enxergou um dia o que tinha passado despercebido por incontáveis gerações de seres humanos: que todo os mitos e todas as lendas e todos os épicos e todas as narrativas sagradas de todas as culturas da humanidade contam essencialmente uma mesma história. Intuiu, maravilhado, que todas as narrativas com peso universal, de Adão a Homer Simpson, passando por Dom Quixote, o Homem-Aranha, Abraão, Dante, Darth Vader, Buda, Frodo, Jesus, Gandhi, Osíris, Harry Potter, João Grilo, Enéas, Hamlet e os formidáveis protagonistas de GladiadorO Sexto Sentido, descrevem incessantemente a mesma trajetória primordial do mesmo herói primordial – figura que esconde-se por trás de diferentes máscaras mas aponta na eternidade para uma mesma verdade espiritual: a nossa.
Quer escutemos a arenga de um feiticeiro do Congo ou leiamos a tradução de um soneto místico de Lao-Tsé; quer decifremos o sentido de um argumento de São Tomas de Aquino ou entendamos o sentido de um conto de fadas esquimó, é sempre com a mesma história que nos deparamos.
Campbell (1904-1987) dedicou a vida a descrever a trajetória desse vertiginoso monomito (“mito único”, neologismo que emprestou de James Joyce) e registrar suas pegadas nas lendas de todas as culturas:
  1. um chamado à aventura, que o herói pode aceitar ou declinar;
  2. um trajeto de provas, nas quais o herói pode ser bem-sucedido ou falhar;
  3. a conquista do objetivo ou obtenção do “elixir”, momento que com freqüência resulta numa importante auto-descoberta;
  4. trajeto de volta ao mundo da experiência comum, percurso no qual novamente o herói pode ser bem-sucedido ou falhar;
  5. aplicação do elixir, no qual aquilo que o herói conquistou pode ser usado para melhorar o mundo.
Um herói vindo do mundo cotidiano se aventura numa região de prodígios sobrenaturais; ali encontra fabulosas forças e obtém uma vitória decisiva; o herói retorna de sua misteriosa aventura com o poder de trazer benefícios a seus semelhantes.
Para Campbell, havia um excelente motivo por trás da onipresença do monomito e da universal paixão humana pelas narrativas heróicas: a trajetória do herói das lendas reflete em idioma coletivo os desafios, as armadilhas e as possíveis recompensas do desenvolvimento psíquico de cada ser humano. Freud concluíra que os sonhos trazem revelações essenciais sobre a trajetória da psique e valiosas pistas para o seu avanço; Jung e Campbell concluíram que os mitos são os sonhos coletivos da humanidade, e descrevem o arco completo da inocência à maturidade/auto-descoberta.
A função primária da mitologia e dos ritos sempre foi a de fornecer os símbolos que levam o espírito humano a avançar, opondo-se àquelas fantasias humanas constantes que tendem a levá-lo para trás. Com efeito, pode ser que a incidência tão grande de neuroses no nosso meio decorra do declínio, entre nós, desse auxiliar espiritual efetivo. Mantemo-nos ligados às imagens não exorcizadas de nossa infância, razão pela qual não nos inclinamos a fazer as passagens necessárias para a vida adulta.
A jornada externa do herói reflete, naturalmente, a viagem interior do indivíduo rumo – se tudo der certo - à maturidade espiritual. O terreno de perigos, trevas e armadilhas em que o herói é forçado a penetrar são as regiões ameaçadoras e desconhecidas do inconsciente. Os ajudantes e objetos mágicos que ele encontra pelo caminho representam nossos próprios recursos interiores, que nem imaginávamos que estavam lá. O inimigo que o herói precisa matar para sobreviver e salvar o mundo (e essa é a reviravolta inevitável de todas as histórias) somos sempre nós mesmos; na narrativa do herói o momento da vitória é o preciso momento da sua morte: o momento da auto-descoberta (o inimigo sou eu), da morte do ego e da passagem para a maturidade com o elixir da vida eterna. O herói que recusa-se a morrer recusa-se a crescer; recusa-se a ressuscitar e, por ser incapaz de conhecer e ajudar a si mesmo, é incapaz de conhecer e ajudar os outros.
O HERÓI QUE RECUSA-SE A MORRER RECUSA-SE A CRESCER.

Em seu assombroso O Herói de Mil FacesCampbell convida o leitor a refazer, como Teseu na ilha de Minos com a ajuda do fio de Ariadne, o trajeto labirinto adentro (e quem sabe afora) pelos motivos universais que demarcam a trajetória do herói. “Nem sequer teremos de correr os riscos da aventura sozinhos”, esclarece Campbell, “pois os heróis de todos os tempos nos procederam; o labirinto é totalmente conhecido. Temos apenas de seguir o fio da trilha do herói. E ali onde pensávamos encontrar uma abominação, encontraremos uma divindade; onde pensávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos; onde pensávamos viajar para o exterior, atingiremos o centro da nossa própria existência; e onde pensávamos estar sozinhos, estaremos com o mundo inteiro.”


http://www.baciadasalmas.com/tag/joseph-campbell/

O perfeito amor lança fora o medo

"No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.  Ora, o medo produz tormentos;  logo aquele que teme não é aperf...