quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

1º - Apropriação do tempo-espaço.

Trilogia: Pais e Educadores

1º - Apropriação de tempo-espaço.

“E me inventei neste gosto, de especular idéias.”

A parábola do bom filho a casa retorna esteve presente nos últimos dias. Nasci e fui criada no antigo bairro popular, hoje centro e morei no setor sul na adolescência, neste ano de 2015 voltei a morar perto da Praça do Cruzeiro.  Este retorno esta carregado de lembranças e sentimentos que fazem com que me aproprie mais de mim mesma, de minha estória de vida e do meu bairro.
Desde que começaram as “ocupações” dos colégios estaduais pelos secundaristas estou pesquisando sobre as OSs na educação e saúde.
Para as OSs administrarem os hospitais e os colégios aqui em Goiás o governo reconhece que hoje não têm competências administrativas para isto. Portanto, delega e paga (2x mais) para que outros administrem o que ele não consegue fazer – como se fosse possível à transferência de responsabilidades! Sabemos que a verdadeira liderança/educação se dá pelo exemplo seja ela positiva ou negativa. Atitude semelhante é quando pais dizem para as escolas: toma que o filho é teu!
Fui conhecer os secundaristas que “apropriaram” do Colégio Lyceu. Participei de uma assembleia com eles e gostei do que vi e ouvi. Senti a insegurança deles misturada com a força e a coragem para lutar pelo o que tem que ser feito; na saída, me pediram mudas frutíferas para plantarem lá, disse que sim e ofereci a pedagogia da cooperação através de uma oficina de Jogos Cooperativos e danças circulares; a sementinha foi plantada.
Inevitável à lembrança de tia Terezinha quando entrei no Colégio Lyceu, ela que dedicou com honestidade, a vida à educação. Imagino a coragem e a determinação que ela teve para administra-lo e torná-lo referência mesmo dependendo do Estado para isto, mas, as leis do Estado para a educação eram as mesma que hoje os pais pagam pra tê-las nos colégios militares - disciplina e respeito.
Naquele tempo havia sim problemas burocráticos e administrativos, talvez mais que hoje, mas estavam acompanhados de pessoas que sonhavam e acreditavam em mudanças positivas. Fui conversar com ela que sempre trabalhou pela educação no Estado (por falar nisto, ela não conseguiu a aposentadoria que lhe era devida, pois, o sr. Governador acha que só a esposa tem este direito). Ela é contra as OSs na Educação e até arrisca a dizer que a secretária Raquel também o seja.
 Neste tempo de “resgate” refletindo sobre: Qual a função da adolescência na construção da sociedade? Por que a natureza nos “enche” de força e disposição numa fase que temos mais incertezas e inseguranças? Qual foi a sua principal transgressão quando adolescente?
Penso no governador Marconi adolescente, devo ter encontrado com ele nos corredores do Pré-Médico, mas, não me lembro. Vi a foto dele na ficha de aluno, magrinho. Só na comemoração de 25 anos de formatura dos ex-alunos é que soube que ele estudou lá. Na ocasião da festa, ele governador, fez um discurso emocionado sobre como foi importante pra ele, vindo do interior, estudar no Pré-Médico. Quase chorei; pensei: agora ele irá pelo menos receber minha tia no gabinete dele; mero engano. Aquele menino que um dia viu em Iris Rezende (o mesmo que protagonizou vários atos “rebeldes” ali mesmo no Lyceu) como ídolo, pai, referência, companheiro de partido, agora o tratava como inimigo e os amigos do inimigo são inimigos também. “Aquilo que eu nego em mim, encontro como destino.”
Hoje, deparamos com outro Marconi, não tão magro assim, e apossado pelo arquétipo (padrão de comportamento, protótipo, impressão, marca, forma de perceber e interagir com o meio) de Chronos. Sim, aquele que um dia foi Davi enfrentando Golias ou Hércules limpando os estábulos do rei, agora é Chronos (mitologia grega, pai de Zeus filho de Urano, o tempo cronológico, o deus que impõem regras e tempos para as relações humanas, “tem que ser agora e do meu jeito”, o pai que devora seus filhos, pai autoritário que teme ser deposto por um filho “rebelde”, da mesma forma que ele próprio o fez); talvez esteja aqui a grande dificuldade do nosso governador em dialogar com estes rebeldes estudantes; medo de se olhar no espelho.
Claro que ele, Marconi, não esta sozinho neste protótipo/arquétipo, vemos Chronos em vários líderes brasileiros, principalmente do executivo. Entram numa humildade; falam das mudanças e maravilhas que eles sonham, daqui pra frente tudo vai ser diferente, você vai aprender a ser gente, lá lá la...em pouco “tempo” a humildade se vai e permanecer no Poder pelo poder é o que importa.
A educação só se mantém pelo exemplo, foi este o modelo recebido, é este o padrão que insiste em perpetuar enquanto não vemos outras referências. Aqui a principal função das escolas: mostrar várias perspectivas sobre o mesmo tema – “se tu me contradizes, tu me enriqueces”. Que distância quilométrica da nossa prática! O que falta nas escolas é um gestor/Educador capaz de ver que o cano vazando é um tema espontâneo multidisciplinar que deve ser pedagogicamente explorado com os alunos e todos da escola. E a SEDUCE ser mais pedagógica em suas ações (parece ironia, mas é real a carência).
No relatório da comissão internacional sobre a educação para o século XXI, coordenado por Jacques Dellors (2000) para a Unesco, propõemse quatro pilares para a educação contemporânea, são eles: 1.aprender a conhecer, 2.aprender a fazer, 3.aprender a viver juntos, 4.aprender a ser.
 As reais chances de ampliarmos a noção de comum-unidade que tanto precisamos, é adotarmos estes pilares. Educação para a vida, para o empoderamento do ser.
Esta crise é a grande oportunidade que esperávamos? Podemos fazer o trabalho de hoje com os mesmos métodos de ontem?
É tempo oportuno para enxergarmos outras formas de interações com o tempo-espaço.
No próximo, outros argumentos porque #soucontraOSsnaEducação
#contraOSnaEducação

Rita de Cássia Ramos Carneiro – psicóloga.


Foto: http://www.opopular.com.br/especial-goi%C3%A2nia-82-anos-1.974178/goi%C3%A2nia-82-anos-urban-sketchers-1.974181

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