Deixar que o interno, cada dia mais, determine o externo
é um exercício e tanto. Pensei em escrever sobre Integridade; mas, não foi isto
que surgiu...
Alexander Lowen em Prazer Uma Abordagem Criativa da Vida;
relata:
“A
personalidade dominada pelo ego é uma perversão diabólica da verdadeira
natureza humana. O ego não existe para ser mestre do corpo, mas, sim seu servo
leal e obediente.”
O corpo deseja o prazer o ego o poder.
A força criativa da vida é o prazer uma força capaz de se
opor à destrutividade em potencial do poder.
O Prazer pode ser confundido por divertimentos, fazendo
com que o importante hoje em dia seja se divertir, quem não se diverte é
suspeito!
Surge a Ética do Divertimento que é uma tentativa de
recuperar os prazeres da infância do faz-de-conta. A diferença é que a criança aceita
e se entrega a fantasia, entra de corpo e alma na brincadeira; já o adulto muitas
vezes não aceita o faz-de-conta, portanto não consegue realmente brincar. Sem o
faz-de-conta não pode ter a entrega e sem entrega não há prazer.
Uma das condições básicas para o prazer é a entrega e o
comprometimento total com o que se está fazendo gerando o prazer ao se auto exprimir.
Quando não nos envolvemos com o que estamos fazendo no aqui e agora ficamos
divididos e em conflitos. “Mas o passado
e o futuro não passam de sonhos. Só o presente é real.”
A criatividade adulta resulta do desejo de prazer e da
necessidade de autoexpressão. Sempre há um elemento de diversão no processo
criativo, pois começa com o faz-de-conta e permite que o novo e o inesperado
apareça e nos surpreenda.
O processo criativo é movido pela busca do prazer a fim
de expressar novas formas de vivenciar o mundo, faz com que a criatividade se una
definitivamente ao prazer, sem prazer não há criatividade.
A diferença entre adultos e crianças com a diversão e o
processo criativo está na importância dos resultados. Quando despreocuparmos
dos “fins” (suspendemos a realidade e a seriedade que atribuímos aos resultados)
e curtimos o processo, assim, conseguimos nos divertir e sentir prazer. Mas,
se o resultado for o foco é possível que o prazer dê lugar ao poder.
A questão aqui não seria negar a realidade ao contrário;
a criança não tenta se enganar nem esquecer a realidade interna. Ela transforma
a realidade externa com sua imaginação.
“Negar
a realidade interna é sintoma de doença mental. A diferença básica entre
imaginação e ilusão, entre o faz-de-conta criativo e o enganar-se a si mesmo,
está na manutenção da realidade interna, em saber quem somos e o que sentimos. É
a mesma diferença que há entre divertimento e prazer reais e as chamadas
diversões escapistas.”
Precisamos sentir seguros de nossa própria identidade e
realidade de nossos corpos para podermos divertir com o faz-de-conta. Se não há
segurança a fantasia se transforma em paranoia.
Muitas vezes confundimos o que é divertimento e o que é
realmente sério e exige cuidados. Sexo, ingestão de drogas, álcool e direção em
alta velocidade muitas vezes são praticados, nesta atual obsessão pelo
divertimento, para fugir à vida fútil, consumista e sem sentido que somos
obrigados a levar.
A busca por entretenimento deriva da necessidade de fugir
dos problemas, conflitos e sentimentos intoleráveis do querer mais mais mais, que
o consumismo gerou em nós.
“É
por isso que a diversão adulta sempre se associa ao álcool. A ideia de
divertimento, para muitas pessoas, é ficarem bêbadas ou altas, ou usarem drogas
para escapar da sensação de vazio e de tédio. As alucinações causadas pelo LSD
são chamadas de “viagens” o que deixa clara a relação com a ideia de fuga.”
(Este livro foi lançado nos EUA em 1970 e aqui no Brasil
em 1984. Fico impressionada como o conteúdo é atual!)
Esta “loucura” por diversão, ou melhor, por mostrar que esta
se divertindo e postando TUDO que se faz nas Redes Sociais, por si só já destrói
a verdadeira capacidade de sentir prazer que precisa de espontaneidade e
relaxamento para acontecer.
O prazer exige uma atitude “séria” diante da vida, um
compromisso com a própria existência e o próprio trabalho. Sim o trabalho pode
e deve ser fonte de prazer e divertimento sim. A ideia de que trabalho é algo
que precisa ser penoso, cansativo, estafante não nos cabe mais, principalmente
a quem queira desfrutar a vida com saúde e qualidade.
É certo que o trabalho é
uma ação que visa um resultado, difere das brincadeiras, mas, pode ser um
prazer quando conseguimos que a nossa energia flua livremente, ritmicamente e
aceitamos voluntariamente a situação do trabalho.
Quando conseguimos harmonia e coordenação dos nossos
movimentos o prazer esta presente. Ao observarmos, por exemplo, um carpinteiro
trabalhar e este apresenta movimentos rítmicos e relaxados percebe-se uma identificação
com a atividade no fluir livre e espontâneo
dos movimentos. Assim, é certo que o trabalho feito com prazer seja traduzido
em um produto de qualidade.
É importante que a estrutura do nosso cotidiano seja
orientada pelo prazer e não apenas pelo poder. Enquanto estivermos trabalhando exclusivamente
para termos o status que o poder nos oferece estaremos neste ciclo de constantemente
buscarmos nos divertir para fugir da realidade que não nos proporciona nenhuma
forma de realização e prazer.
Esquecemos facilmente que podemos sentir prazer nas
circunstâncias comuns e simples da vida, pois o prazer é um modo de Ser e não de
ter. É o deixar fluir dos sentimentos.
Quando em uma
conversa há sentimentos presentes na comunicação nossa apreciação e atenção é
maior. Nosso corpo e nossa voz são instrumentos para expressarmos os nossos
sentimentos e sensações e quando isto acontece, de falarmos com emoção de
maneira fácil e rítmica, torna-se um prazer tanto pra quem escuta como pra quem
fala.
“A
pessoa está num estado de prazer quando os movimentos de seu corpo fluem livre,
ritmicamente e em harmonia com seu ambiente.”
No próximo continuo sobre o Prazer e a dor e o processo
criativo...