Precisamos sim reavaliar nossa condição de ser e
estar no mundo...diz a mestra Lia Diskin.
Com o texto Politicamente
Correto comecei o tema que estou vivenciando: O incomodo de ficar de
férias. Não fazer nada, dá um vazio em mim que comecei a refletir sobre isto. É
como se o meu valor estivesse ligado ao que faço externamente e não ao que sou.
Claro que o que sou se confunde com o que faço.
Sim, meus atos refletem meus pensamentos que
refletem meus valores e minha personalidade; mas não significa que quando não
faço nada (Nadismo) eu não tenha valor! Ou significa?
Racionalmente sei que não, mas, na prática não fazer
nada mexeu com minhas estruturas. Afinal, o que as pessoas vão pensar de mim?
Ahhm, voltamos à autoimagem idealizada!
Pelo sim pelo não, não posso correr este risco; voltei
a ler o Livro: O Segredo da Flor de Ouro – Um Livro de Vida Chinês . Autores
C.G.Jung e R. Wilhelm - do I Ching. (Por que este livro? Não sei ao certo,
“Simplesmente” ele me chamou atenção).
(Aliás, fiz
Psicologia para estudar Jung, apaixonei pelo seu livro: Sincronicidade;
quando li estava fazendo Pedagogia. Transferi o curso (que decepção); na Católica,
século passado; era basicamente estudos da Comportamental e Psicanálise, e os
psicanalistas que estudei não gostavam nem de ouvir o nome do Jung).
Esta leitura, por um lado, ajuda a sustentar a
imagem que criei de que tenho valor pelo que faço e não pelo que sou, mesmo
percebendo que o foco do livro seja o autoconhecimento e o desenvolvimento.
Dizem que o melhor que podemos fazer para a
humanidade é limparmos e transformarmos a nós mesmos, desenvolvendo nossa
dimensão espiritual. Se nossa energia estiver vibrando em harmonia todo o “campo”
ao nosso redor se harmoniza também. É fácil pensar assim, mas, vivenciar não;
por isto vivo mais no campo da razão, no mental, na fantasia da “realidade”
criada por mim, numa matrix.
“As
pessoas estão cansadas da especialização cientifica e do intelectualismo
racional. Elas querem ouvir a verdade que não limite, mas amplie; que não
obscureça, mas ilumine; que não escorra como água, mas que penetre até os
ossos...”C. G. Jung
Buscar conhecer a verdade que habita em mim é “mexer”
com as estruturas internas de autoimagem para alcançar o self (si-mesmo); é um
trabalho arqueológico, exige cuidados e principalmente humildade pra pedir e
buscar ajuda.
Neste livro Jung diz o seguinte provérbio chinês:
“Se o homem errado usar o meio correto, o meio correto atuará de modo errado.”
Contradizendo a crença do método “correto”. Isto nos remete a questão da busca
frenética pelas receitas prontas, das dicas e métodos passo a passo, que se
traduz, muitas vezes, a resistência e medo ao novo.
“No
tocante a isso, tudo depende do homem e pouco ou nada do método. Este último
representa apenas o caminho e a direção escolhidos pelo indivíduo, é o modo
pelo qual o indivíduo atua nesse caminho que exprime verdadeiramente o seu ser.”
Um leitor mais atento pode perceber que escrever
este texto é uma forma de compensar o não fazer nada e mais que isto, me
escondo no intelectualismo, tenho a pretensão de manter uma imagem de
inteligente pra “compensar” a imagem de emocionalmente frágil. Uhm...
“Onde
há uma vontade, há um caminho!”
Jung, diz que nos primeiros tempos da cultura cristã
o espírito era visto apenas como os valores positivos que valia a pena lutar.
Que no decorrer do século XIX o espírito começou a degenerar em intelecto,
confundindo intelecto e espírito.
“O
espírito representa algo de mais elevado do que o intelecto, abarcando não só
este último como os estados afetivos. Ele é uma direção e um princípio de vida
que aspiram às alturas luminosas e sobre-humanas.”
Sabendo que os opostos sempre se equilibram na mesma
balança, a questão aqui não é priorizar o espiritual em detrimento ao
intelectual, o fazer ao não fazer, e sim saber que o não fazer também é um
fazer (wu wei = a ideia taoística da
ação através da não-ação).
Deixar acontecer! Aceitar a realidade. Ação da não-ação
é difícil pra nós, pois temos Egos que querem ser o Senhor da Constelação.
“Devemos deixar as coisas acontecerem
psiquicamente. Eis
a arte que muita gente desconhece. É que muitas pessoas sempre parecem estar
querendo ajudar, corrigindo e negando, sem permitir que o processo psíquico se
cumpra calmamente.”
Simples assim: deixe acontecer! Mas, “infelizmente”,
sabemos que a simplicidade também é uma arte; dificílima de realizar para nós
neste momento crucial.
Assim, o “não fazer nada”, ou melhor, o não fazer
nada rentável financeiramente, nesta forma de ser e perceber a realidade a qual
me vejo, abala minha autoimagem que ainda, depende da aprovação e aceitação dos
outros para sentir bem.
O primeiro passo importante para sair desta matrix é
a Observação, sim “apenas” observar a mim mesma, as atitudes e principalmente
os pensamentos. “Nada mais fácil, se não começassem aqui as dificuldades.” Apenas
observar!
O “espírito critico” com certeza aparece tentando
interpretar, entender, classificar, separar, formalizar ou então desvalorizar
os fragmentos da fantasia.
As maneiras de obter-se as fantasias, variam de
indivíduo para indivíduo, pode-ser: escrevendo, pintando, desenhando,
visualizando. “Se o espasmo da consciência for excessivo, somente as mãos
conseguem fantasiar, modelando ou desenhando formas que às vezes são totalmente
estranhas à consciência.”
É comum depararmos com minúsculos “fios da fantasia”
os quais não nos permitem reconhecer exatamente de onde vêm, e para onde vão...
Depois de muitas resistências e de um esforço gigantesco, pois, o
desenvolvimento da personalidade é uma árdua tarefa; podemos aceitar o
irracional e incompreensível, simplesmente porque é o que ocorre.
Consigo mudar quando aceito a realidade. Só posso
mudar aquilo que percebo e aceito. Como mudar algo que não percebo? Primeiro é
necessário ter consciência pra depois poder escolher a forma de agir. Sei que não
é fácil; mas, o difícil não pode ser visto como impossível.
Sim, o processo de escrever este texto é um exemplo
de observação, aceitação e trans-formação!!
Termino aqui com mais um escrito de Jung, do livro:
O segredo da flor de ouro.
“O
passo que conduz a uma consciência mais alta deixa-nos sem qualquer segurança,
com a retaguarda desguarnecida. O indivíduo deve entregar-se ao Caminho com
toda a sua energia, pois só mediante sua Integridade poderá prosseguir e só ela
(integridade) será uma garantia de que tal caminho não se torne uma aventura
absurda.”
· Opss;
dica para o próximo texto: Integridade; será?