Trilogia: Pais e
Educadores
1º - Apropriação de
tempo-espaço.
“E me inventei neste gosto, de
especular idéias.”
A parábola do bom
filho a casa retorna esteve presente nos últimos dias. Nasci e fui criada
no antigo bairro popular, hoje centro e morei no setor sul na adolescência,
neste ano de 2015 voltei a morar perto da Praça do Cruzeiro. Este retorno esta carregado de lembranças e
sentimentos que fazem com que me aproprie mais de mim mesma, de minha
estória de vida e do meu bairro.
Desde que começaram as
“ocupações” dos colégios estaduais pelos secundaristas estou pesquisando sobre as
OSs na educação e saúde.
Para as OSs administrarem os hospitais e os colégios aqui em Goiás o governo reconhece que hoje não têm
competências administrativas para isto. Portanto, delega e paga (2x mais) para que
outros administrem o que ele não consegue fazer – como se fosse possível à
transferência de responsabilidades! Sabemos que a verdadeira liderança/educação
se dá pelo exemplo seja ela positiva ou negativa. Atitude semelhante é quando pais
dizem para as escolas: toma que o filho é teu!
Fui conhecer os
secundaristas que “apropriaram” do Colégio Lyceu. Participei de uma
assembleia com eles e gostei do que vi e ouvi. Senti a insegurança deles misturada
com a força e a coragem para lutar pelo o que tem que ser feito;
na saída, me pediram mudas frutíferas para plantarem lá, disse que sim e
ofereci a pedagogia da cooperação através de uma oficina de Jogos
Cooperativos e danças
circulares; a sementinha foi plantada.
Inevitável à lembrança
de tia Terezinha quando entrei no Colégio Lyceu, ela que dedicou com
honestidade, a vida à educação. Imagino a coragem e a determinação que ela teve
para administra-lo e torná-lo referência mesmo dependendo do Estado para isto,
mas, as leis do Estado para a educação eram as mesma que hoje os pais pagam pra
tê-las nos colégios militares - disciplina e respeito.
Naquele tempo havia sim
problemas burocráticos e administrativos, talvez mais que hoje, mas estavam
acompanhados de pessoas que sonhavam e acreditavam em mudanças positivas. Fui
conversar com ela que sempre trabalhou pela educação no Estado (por falar
nisto, ela não conseguiu a aposentadoria que lhe era devida, pois, o sr.
Governador acha que só a esposa tem este direito). Ela é contra as OSs na
Educação e até arrisca a dizer que a secretária Raquel também o seja.
Neste tempo de “resgate” refletindo sobre:
Qual a função da adolescência na construção da sociedade? Por que a natureza
nos “enche” de força e disposição numa fase que temos mais incertezas e
inseguranças? Qual foi a sua principal transgressão quando adolescente?
Penso no governador
Marconi adolescente, devo ter encontrado com ele nos corredores do Pré-Médico,
mas, não me lembro. Vi a foto dele na ficha de aluno, magrinho. Só na comemoração
de 25 anos de formatura dos ex-alunos é que soube que ele estudou lá. Na
ocasião da festa, ele governador, fez um discurso emocionado sobre como foi
importante pra ele, vindo do interior, estudar no Pré-Médico. Quase chorei;
pensei: agora ele irá pelo menos receber minha tia no gabinete dele; mero
engano. Aquele menino que um dia viu em Iris Rezende (o mesmo que
protagonizou vários atos “rebeldes” ali mesmo no Lyceu) como ídolo, pai,
referência, companheiro de partido, agora o tratava como inimigo e os amigos do
inimigo são inimigos também. “Aquilo que eu nego em mim, encontro como
destino.”
Hoje, deparamos com
outro Marconi, não tão magro assim, e apossado pelo arquétipo (padrão
de comportamento, protótipo, impressão, marca, forma de perceber e interagir
com o meio) de Chronos. Sim, aquele que um dia foi Davi
enfrentando Golias ou Hércules limpando os estábulos do rei, agora é Chronos
(mitologia grega, pai de Zeus filho de Urano, o tempo cronológico,
o deus que impõem regras e tempos para as relações humanas, “tem que ser agora e
do meu jeito”, o pai que devora seus filhos, pai autoritário que teme ser
deposto por um filho “rebelde”, da mesma forma que ele próprio o fez); talvez
esteja aqui a grande dificuldade do nosso governador em dialogar com estes rebeldes
estudantes; medo de se olhar no espelho.
Claro que ele, Marconi,
não esta sozinho neste protótipo/arquétipo, vemos Chronos em vários líderes
brasileiros, principalmente do executivo. Entram numa humildade; falam das
mudanças e maravilhas que eles sonham, daqui pra frente tudo vai ser diferente,
você vai aprender a ser gente, lá lá la...em pouco “tempo” a humildade
se vai e permanecer no Poder pelo poder é o que importa.
A educação só se mantém
pelo exemplo, foi este o modelo recebido, é este o padrão que insiste em
perpetuar enquanto não vemos outras referências. Aqui a principal função das
escolas: mostrar várias perspectivas sobre o mesmo tema – “se tu me
contradizes, tu me enriqueces”. Que distância quilométrica da nossa prática! O
que falta nas escolas é um gestor/Educador capaz de ver que o cano vazando é um
tema espontâneo multidisciplinar que deve ser pedagogicamente explorado com os
alunos e todos da escola. E a SEDUCE ser mais pedagógica em suas ações (parece
ironia, mas é real a carência).
No relatório da
comissão internacional sobre a educação para o século XXI, coordenado por
Jacques Dellors (2000) para a Unesco, propõem‑se
quatro pilares para a educação contemporânea, são eles: 1.aprender a
conhecer, 2.aprender a fazer, 3.aprender a viver juntos, 4.aprender a ser.
As reais chances de ampliarmos a noção de
comum-unidade que tanto precisamos, é adotarmos estes pilares. Educação para a
vida, para o empoderamento do ser.
Esta crise é a grande oportunidade
que esperávamos? Podemos fazer o trabalho de hoje com os mesmos métodos de
ontem?
É tempo oportuno
para enxergarmos outras formas de interações com o tempo-espaço.
No próximo, outros argumentos
porque #soucontraOSsnaEducação
#contraOSnaEducação
Rita de Cássia Ramos Carneiro –
psicóloga.
Foto: http://www.opopular.com.br/especial-goi%C3%A2nia-82-anos-1.974178/goi%C3%A2nia-82-anos-urban-sketchers-1.974181
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Morreu de que?
- Se sufocou com as palavras que nunca disse...
Grata, pela visita!
Abraços,
Rita de Cássia