quinta-feira, 25 de julho de 2013

Prazer e Processo Criativo (Parte 1)


Deixar que o interno, cada dia mais, determine o externo é um exercício e tanto. Pensei em escrever sobre Integridade; mas, não foi isto que surgiu...

Alexander Lowen em Prazer Uma Abordagem Criativa da Vida; relata:
“A personalidade dominada pelo ego é uma perversão diabólica da verdadeira natureza humana. O ego não existe para ser mestre do corpo, mas, sim seu servo leal e obediente.”

O corpo deseja o prazer o ego o poder.
A força criativa da vida é o prazer uma força capaz de se opor à destrutividade em potencial do poder.

O Prazer pode ser confundido por divertimentos, fazendo com que o importante hoje em dia seja se divertir, quem não se diverte é suspeito!

Surge a Ética do Divertimento que é uma tentativa de recuperar os prazeres da infância do faz-de-conta. A diferença é que a criança aceita e se entrega a fantasia, entra de corpo e alma na brincadeira; já o adulto muitas vezes não aceita o faz-de-conta, portanto não consegue realmente brincar. Sem o faz-de-conta não pode ter a entrega e sem entrega não há prazer.

Uma das condições básicas para o prazer é a entrega e o comprometimento total com o que se está fazendo gerando o prazer ao se auto exprimir. Quando não nos envolvemos com o que estamos fazendo no aqui e agora ficamos divididos e em conflitos. “Mas o passado e o futuro não passam de sonhos. Só o presente é real.”

A criatividade adulta resulta do desejo de prazer e da necessidade de autoexpressão. Sempre há um elemento de diversão no processo criativo, pois começa com o faz-de-conta e permite que o novo e o inesperado apareça e nos surpreenda.

O processo criativo é movido pela busca do prazer a fim de expressar novas formas de vivenciar o mundo, faz com que a criatividade se una definitivamente ao prazer, sem prazer não há criatividade.

A diferença entre adultos e crianças com a diversão e o processo criativo está na importância dos resultados. Quando despreocuparmos dos “fins” (suspendemos a realidade e a seriedade que atribuímos aos resultados) e curtimos o processo, assim, conseguimos nos divertir e sentir prazer. Mas, se o resultado for o foco é possível que o prazer dê lugar ao poder.

A questão aqui não seria negar a realidade ao contrário; a criança não tenta se enganar nem esquecer a realidade interna. Ela transforma a realidade externa com sua imaginação.

“Negar a realidade interna é sintoma de doença mental. A diferença básica entre imaginação e ilusão, entre o faz-de-conta criativo e o enganar-se a si mesmo, está na manutenção da realidade interna, em saber quem somos e o que sentimos. É a mesma diferença que há entre divertimento e prazer reais e as chamadas diversões escapistas.”

Precisamos sentir seguros de nossa própria identidade e realidade de nossos corpos para podermos divertir com o faz-de-conta. Se não há segurança a fantasia se transforma em paranoia.

Muitas vezes confundimos o que é divertimento e o que é realmente sério e exige cuidados. Sexo, ingestão de drogas, álcool e direção em alta velocidade muitas vezes são praticados, nesta atual obsessão pelo divertimento, para fugir à vida fútil, consumista e sem sentido que somos obrigados a levar.

A busca por entretenimento deriva da necessidade de fugir dos problemas, conflitos e sentimentos intoleráveis do querer mais mais mais, que o consumismo gerou em nós.

“É por isso que a diversão adulta sempre se associa ao álcool. A ideia de divertimento, para muitas pessoas, é ficarem bêbadas ou altas, ou usarem drogas para escapar da sensação de vazio e de tédio. As alucinações causadas pelo LSD são chamadas de “viagens” o que deixa clara a relação com a ideia de fuga.”

(Este livro foi lançado nos EUA em 1970 e aqui no Brasil em 1984. Fico impressionada como o conteúdo é atual!)

Esta “loucura” por diversão, ou melhor, por mostrar que esta se divertindo e postando TUDO que se faz nas Redes Sociais, por si só já destrói a verdadeira capacidade de sentir prazer que precisa de espontaneidade e relaxamento para acontecer.

O prazer exige uma atitude “séria” diante da vida, um compromisso com a própria existência e o próprio trabalho. Sim o trabalho pode e deve ser fonte de prazer e divertimento sim. A ideia de que trabalho é algo que precisa ser penoso, cansativo, estafante não nos cabe mais, principalmente a quem queira desfrutar a vida com saúde e qualidade. 

É certo que o trabalho é uma ação que visa um resultado, difere das brincadeiras, mas, pode ser um prazer quando conseguimos que a nossa energia flua livremente, ritmicamente e aceitamos voluntariamente a situação do trabalho.

Quando conseguimos harmonia e coordenação dos nossos movimentos o prazer esta presente. Ao observarmos, por exemplo, um carpinteiro trabalhar e este apresenta movimentos rítmicos e relaxados percebe-se uma identificação com a atividade  no fluir livre e espontâneo dos movimentos. Assim, é certo que o trabalho feito com prazer seja traduzido em um produto de qualidade.

É importante que a estrutura do nosso cotidiano seja orientada pelo prazer e não apenas pelo poder. Enquanto estivermos trabalhando exclusivamente para termos o status que o poder nos oferece estaremos neste ciclo de constantemente buscarmos nos divertir para fugir da realidade que não nos proporciona nenhuma forma de realização e prazer.

Esquecemos facilmente que podemos sentir prazer nas circunstâncias comuns e simples da vida, pois o prazer é um modo de Ser e não de ter. É o deixar fluir dos sentimentos.

 Quando em uma conversa há sentimentos presentes na comunicação nossa apreciação e atenção é maior. Nosso corpo e nossa voz são instrumentos para expressarmos os nossos sentimentos e sensações e quando isto acontece, de falarmos com emoção de maneira fácil e rítmica, torna-se um prazer tanto pra quem escuta como pra quem fala.

“A pessoa está num estado de prazer quando os movimentos de seu corpo fluem livre, ritmicamente e em harmonia com seu ambiente.”

No próximo continuo sobre o Prazer e a dor e o processo criativo...

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